Reflexões sobre a atividade permanente da chamada do livro: Ler e escrever na Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas.
Na Educação Infantil são inúmeras as oportunidades significativas em que as crianças podem reconhecer letras, aprender os nomes de cada uma e tentar grafá-las.
Tal conhecimento é importante, em primeiro lugar, porque desse modo a criança foca a atenção no princípio de que utilizamos as letras na escrita de palavras.
Em segundo lugar, porque, para “conversar” sobre a escrita, para dialogar sobre como escrever uma palavra, a criança passa a poder lançar mão dessa metalinguagem.
Ou seja, ao escrever seus nomes ou outras palavras de seu interesse, pode interagir com os colegas e professora sobre que letra usar.
Por fim, as atividades com as letras familiarizam a criança com o seu traçado, permitindo que possa escrever ao seu modo usando os símbolos convencionais. P. 28
O mural da chamada é mais uma alternativa em que, por meio da comparação da escrita do nome das crianças, podem ser criadas várias oportunidades de aprender o nome das letras. Assim, é possível perguntar quais nomes começam com a mesma letra, qual é aquele que tem mais ou menos letras, qual o nome que difere do outro apenas por uma letra, entre outras possibilidades.
A atividade diária com o mural de chamada também permite que as crianças reconheçam globalmente o seu nome, o nome dos colegas, fazendo com que tais palavras se tornem “estáveis”. Ou seja, mesmo sem estar alfabetizada, a criança pode ir construindo um repertório de palavras que sabe escrever de cor.
Tal conhecimento, sem dúvida, também pode ajudá-la nas suas tentativas de escrita e leitura de novas palavras. P. 29
As letras do alfabeto permitem que, com base nelas e nos sons que representam, possamos escrever infinitas palavras e textos.
Os diferentes textos com os quais convivemos são escritos com diferentes tipos de letra. Essa é uma aprendizagem que as crianças precisam realizar, e que muito cedo elas começam a perceber, com base nas experiências que vivenciam com os variados textos que circulam na sociedade. P. 110
Em várias escolas de Educação Infantil, percebemos a opção em trabalhar, tanto na leitura como na escrita, com palavras escritas com letras de imprensa maiúscula.
São várias as justificativas para essa opção: essas letras estão muito presentes no cotidiano das crianças, em vários textos e suportes textuais (outdoors, capas de livros, placas, rótulos de embalagens, etc.); são letras mais facilmente identificadas pelas crianças nas palavras, já que é claro onde a letra começa e termina, o que não ocorre com a letra cursiva; são letras com um traçado mais simples e, portanto, mais fáceis de serem reproduzidas, não sendo, inclusive, necessário um treino sobre sua movimentação. P. 111
Fazer a opção pelo trabalho com a letra de imprensa maiúscula na Educação Infantil não significa, no entanto, que os outros tipos de letras não possam estar presentes na sala, pois espera-se que textos escritos com diferentes letras sejam lidos/vistos nesse contexto. P. 112
No trabalho com os diferentes tipos de letras na Educação Infantil, precisamos considerar, portanto, dois aspectos: os usos efetivos dessas letras nos diferentes textos que circulam na sociedade, o que está vinculado à dimensão do letramento e dos usos sociais da linguagem; e o desenvolvimento cognitivo das crianças em relação à apropriação da escrita alfabética.
Em relação ao primeiro aspecto, a diversidade de formas de se grafar as letras pode ser trabalhada na escola por meio da leitura e escrita de diferentes textos, em diferentes suportes. No que se refere ao desenvolvimento cognitivo dos alunos e à capacidade de identificarem e grafarem as letras em suas diferentes formas, precisamos considerar, como apontado por Quinteiros (1997), que a percepção da estabilidade das letras não é facilmente compreendida pelas crianças.
[...] Ao serem apresentadas a diferentes formas de se traçar uma letra, crianças que não compreenderam ainda a natureza alfabética do nosso sistema podem achar que as mesmas letras apresentadas no formato maiúsculo e minúsculo correspondem a letras diferentes, como abordado por Quinteiros (1997). P. 112
Fonte: Ler e Escrever na Educação Infantil: discutindo práticas pedagógicas. Ana Carolina Perrusi Brandão e Ester Calland de Sousa Rosa (Orgs.). Coleção: Língua Portuguesa na Escola. Editora: Autêntica, 2. Ed. Belo Horizonte, 2011.
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