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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Adaptação: Quando a criança começa a frequentar a creche ou pré-escola

 O QUE É ADAPTAÇÃO?
 Na creche ou pré-escola, os principais períodos de adaptação da criança, da família e do educador ocorrem quando a criança entra na educação infantil, quando muda de turma e quando ela sai da instituição. Aqui nós vamos comentar mais sobre os primeiros dias de uma criança nova na educação infantil e sua família.
Os momentos iniciais na educação infantil exigem sempre um esforço de adaptação da criança, da família e daqueles que assumem seus cuidados. Habitualmente, a criança convive com poucas pessoas em casa, com quem já estabeleceu um forte vinculo afetivo. Lá ela pode explorar os cômodos e objetos da casa, observando e participando das atividades familiares.
Já na creche ou pré-escola, a criança passa a conviver com um grande número de adultos e crianças, em um ambiente novo, que geralmente lhe é estranho. Tudo é novo. Mudam as pessoas, o espaço, os objetos, a rotina.
Essas novidades podem ser atraentes para a criança pequena, quando enfrentadas em companhia de um familiar ou de uma pessoa conhecida e querida. Mas quando separada deles, a criança pode sentir-se sozinha, e as novidades lhe causam medo. Ela pode demonstrar isso ficando triste ou quieta demais.
Porém se engana quem acha que só a criança enfrenta mudanças na entrada da educação infantil. Sua reação pode ser a mais evidente. Mas a família também sofre nesse processo. As mudanças não ocorrem só na rotina da família, que tem de encaixar os horários da creche ou pré-escola no seu dia-a-dia. Muda também a forma de encarar a educação e o cuidado de sua criança.
Quando a criança é muito novinha, a mãe frequentemente se pergunta: “Mãe que é mãe deixa seu bebê na creche?”
Ou então a sogra, mãe ou pediatra lhe fazem esse incômodo questionamento, através de comentários ou gestos...
E não é só a criança e a família que enfrentam mudanças. O educador também precisará se adaptar, descobrindo pouco a pouco, nesta criança e nesta família, seus novos parceiros do dia-a-dia.
A instituição de educação infantil também muda ao oferecer seu serviço à família. Ela recebe mais do que novas pessoas. Recebe a cultura, o hábito, a historia delas. Todas acabam mudando. Esse complicado processo de mudanças tem suas vantagens e desvantagens.

AS VANTAGENS E OS PROBLEMAS DA ADAPTAÇÃO

A época de adaptação é muito especial. Todos desejam que ela caminhe da melhor forma. Mas para cada criança e cada família esse processo ocorre de um jeito ligeiramente diferente, em parte, imprevisível.
São muitos os pequenos acontecimentos, mínimos comentários, gestos menores que vão influenciando... E tantas vezes eles acontecem que nem os notamos. Entretanto não dá para negar que as pessoas ficam mais sensíveis neste período. Essa sensibilidade nos deixa mais atentos a esses pequenos fatos. E é justamente essa sensibilidade que pode facilitar ou dificultar as relações entre as pessoas.
Facilitam, quando elas ficam mais flexíveis, mais abertas para ouvir o que os outros têm a dizer, pois aumenta a possibilidade de refletir sobre um acontecimento e tomar uma atitude madura frente a ele.
Dificulta, quando a sensibilidade produz um nível de ansiedade ou nervosismo muito grande. Um pequeno gesto de alguém pode ser tomado como ofensivo para quem está muito tenso. Uma coisinha qualquer pode desconjuntar as ideias e as relações.
Por esse motivo, é importante ter na equipe pessoas disponíveis para ouvir um desabafo, conversar, orientar, dar apoio àqueles que estiverem precisando, seja uma criança, uma pessoa da família ou um educador.
Um jeito inadequado de enfrentar a questão é manter a creche ou pré-escola fechada à família, quando a criança é diariamente entregue e devolvida na porta de entrada. Com essa prática, alguns conflitos e confrontos com os familiares da criança podem até ser evitados. Porém, perde-se a oportunidade de estabelecer a parceira tão necessária entre a instituição e a família. E quem sofre mais com isso acaba sendo a criança!

PLANEJAR E ORGANIZAR-SE PARA RECEBER AS NOVAS 
CRIANÇAS E FAMÍLIAS É UMA BOA IDEIA

O período de adaptação deve ser cuidadosamente planejado para promover a confiança e o conhecimento mútuo, favorecendo o estabelecimento de vínculos afetivos entre as crianças, as famílias e os educadores.
Dá-se, assim, oportunidade para a criança ter experiências sociais diferentes da experiência familiar fazendo contatos com outras crianças em um ambiente estimulante, seguro e acolhedor. Vale lembrar que o fato de ter uma pessoa familiar junto à criança na educação infantil, possibilita à família conhecer melhor o local e o educador com quem a criança vai ficar. Geralmente isso faz com que todos adquiram maior segurança.

COMO A ADAPTAÇÃO ACONTECE NA EDUCAÇÃO INFANTIL?

Essa fase inicial, em que criança, família e educador, estão se conhecendo, pode durar dias ou meses. Pensando melhor, sempre estarão se conhecendo. Por isso se diz que a adaptação, de certa forma, nunca termina. Digamos que há uma fase em que o desafio é maior. Para auxiliar nesse desafio, vamos ver um pouco mais como as crianças costumam reagir nesse período.
Embora haja muitas diferenças individuais, a partir dos seis ou oito meses de idade é comum os bebês não reagirem bem diante de pessoas estranhas e protestarem quando são separados daquelas que lhe são conhecidas. Isso é o que geralmente acontece quando o bebê chega ao centro de educação infantil pela primeira vez. Mesmo se for uma criança um pouco mais velha, a reação mais comum, é chorar e agarrar-se a pessoa que lhe é familiar. Em geral, os dois ou três anos de idade, os protestos parecem diminuir, pois a criança já compreende melhor a separação, consegue que os outros a entendam melhor e se envolve em brincadeiras com companheiros.
Para facilitar a integração da criança à instituição nos primeiros dias, seu ingresso pode acontecer de forma a aumentar gradualmente o tempo que ela fica ali. Nesse período, a presença de um dos pais ou familiares é importante para a criança, pois lhe transmite segurança lhe dá apoio para explorar e conhecer o novo ambiente.
Durante a adaptação, a educadora vai auxiliando a criança familiarizar-se com os novos horários de sono, alimentação e banho, buscando um equilíbrio dos seus hábitos e costumes, aproximando-os gradualmente até acomodá-los à rotina da instituição e na relação deles com sua educadora. As crianças, sobretudo as pequenas, têm poucos recursos para se expressar, visto que ainda não se comunicam verbalmente. Assim, manifestam seus sentimentos através do corpo. Durante o processo de adaptação à creche, elas vivenciam momentos de separação, insegurança e outros sentimentos que, nessa situação, podem desencadear diversos tipos de comportamentos. Ela estará expressando suas dificuldades e buscando o auxílio e cuidado do adulto. Além de chorar, ela pode adoecer frequentemente, recusar alimentos não dormir ou dormir demais etc.
Geralmente, os pais, por observarem essas reações, demonstram preocupação. Eles normalmente fazem as seguintes perguntas: “Minha filha dormiu bem hoje?”, “Meu filho comeu?”, “Ela chorou depois que eu saí?” Essas perguntas demonstram preocupações importantes, mas cabe esclarecer que esses comportamentos são formas muito comuns que a criança encontra para reagir frente às novas situações.
Algumas famílias acreditam que é preferível sair escondido quando deixam a criança na creche ou pré-escola, a fim de evitar seu choro. Em nossa opinião, é preferível que a criança veja e saiba que estão saindo, que expresse sua tristeza ou raiva e que seja consolada. Com o tempo ela vai perceber que voltam todos os dias para buscá-la.
É importante, nessa fase, que todos os pais e educadores, possam compreender e respeitar o momento da criança de conhecer o novo ambiente e estabelecer novas relações. Á medida que ela vai se integrando, podem ser percebidas as influências positivas de sua permanência em uma creche ou pré-escola que oferece boas condições para o seu desenvolvimento.


Texto extraído do Livro: 
ROSSETI-FERREIRA, Maria Clotilde (org). Fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 1998. Páginas 43-47.

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